A nova cara da Família brasileira

Posted by tiagokamui | Posted in | Posted on 14:08

Maria de Souza, 47 anos, acorda por voltas das 06:30 da manhã, levanta com um pouco de cuidado da cama, seus olhos ainda cansados do dia anterior, ela ainda sente sono quando vai até a cozinha, no caminho passa pela sala e liga a tevê no telejornal matinal para acompanhá-lo. Na cozinha começa a lavar a louça e fazer o café da manhã para seu filho que ainda dorme.
Nesse meio tempo o telefone toca algumas vezes, Maria já sabe quem é, sua filha mais nova Manuela, que liga sempre nesse horário durante a manhã para conversar um pouco com sua mãe e saber notícias sobre a filha Lívia que mora com a avó.
Maria mora com o filho mais velho Pedro, de 24 anos, e com a neta Lívia de quatro anos, a mãe da garota, Manuela filha mais nova de Maria se casou e mudou-se da casa da mãe a mais de dois anos, mas Lívia não se acostumou com o novo lar e teve de voltar às presas para a casa da avó, onde mora até hoje.
Assim que se despede da filha pelo telefone e termina de preparar o café e cuidar da louça, ela ainda tem um pequeno espaço de tempo em que deita no sofá e assiste um pouco do telejornal.
Por volta das 08:00 horas Maria acorda a neta que carinhosamente lhe chama de “mãe” e a prepara para mais um longo dia de trabalho.
Lívia assiste desenho animado na tevê e toma um copo de leite com chocolate enquanto a avó toma banho para ambas saírem para o trabalho. Pedro ainda dorme quando mãe e neta saem de casa.
Maria trabalha na avenida Angélica não muito longe de sua casa que fica na Bela Vista, lá ela é cozinheira em uma casa de família a mais de dez anos, ambas, avó e neta repetem esse ritual todos os dias. Lívia passou a acompanhar a avó desde que começou a estudar e uma escolinha infantil ali pertinho dentro do parque Buenos Aires.

Maria é mãe solteira, ou melhor, separada, desde que seus filhos tinham apenas sete e cinco anos de idade seu marido a deixou para ficar com outra mulher com quem já tinha um caso e outro filho. Maria como toda mulher sofreu com a decepção amorosa, mas segundo ela com a ajuda da família e de amigos encontrou força para conseguir superar o fracasso no casamento e voltar a trabalhar e cuidar dos filhos, e assim foi até o início da adolescência deles, quando ela decidiu ir tentar a vida em São Paulo.
“Eu já tinha três irmãos que viviam lá (São Paulo), então decidi ir para tentar uma vida melhor pra mim e meus filhos”, confessa.

Maria partiu da cidade de Trindade no interior de Pernambuco, onde vivia com sua família com destino certo a capital de São Paulo segundo ela a “Terra das oportunidades para qualquer nordestino”.
Chagando aqui não ficou nem um mês desempregada, conseguiu trabalho numa casa de família. Em São Paulo Maria foi morar durante um período na casa da sua irmã que é casada e a ajudou com os custo da viagem para a cidade, foi ela também que indicou Maria a família que a contratou ali em Higienópolis pertinho de onde trabalha hoje, lá ela ficou durante dois anos.
Alguns meses depois juntou dinheiro suficiente para mandar buscar os filhos que vieram já no final do ano com a avó.”Foi uma sensação terrível ter de me separar dos meus filhos, nunca fiz isso me senti péssima, triste” diz.
Mas com a possibilidade de ganhar mais e ter uma melhora de vida, Maria aceitou o convite para trabalhar com a irmã como cozinheira em seu atual trabalho.

Maria sofreu bastante no começo, nunca teve a oportunidade de freqüentar uma faculdade, nem conseguiu se formar no ensino médio. Teve de começar a trabalhar muito cedo para ajudar a família.
Quando foi trabalhar como cozinheira, ela teve de se dedicar bastante para aprender, pois tinha de cozinhar para uma casa de pessoas muito ricas e que estavam acostumadas com comidas mais requintadas, Maria, porém nunca havia estudado nada sobre culinária, ou sobre como cozinhar profissionalmente.
“Sofri muito no começo, nada que eu fazia parecia agradar. Pensei em desistir, mas não podia perder esse emprego, eu dependia dele tinha de ter paciência” diz.
Com o passar do tempo Maria passou da mulher chorona, a mulher elogiada pelo seu cuidado especial na cozinha, pela perfeição com que cozinhava e pela sua dedicação ao trabalho.

Com os filhos já adultos Maria dedica-se a cuidar de sua neta com quem dividi a vida e uma rotina exaustiva de trabalho diário que só acaba tarde da noite, quando ela vem para casa com a neta.
Seu filho mais velho Pedro é o primeiro membro da família a cursar uma faculdade, ele também teve de começar a trabalhar cedo para ajudar em casa, hoje com 24 anos, Pedro ajudou a mãe a comprar o primeiro apartamento onde mora com Maria e a sobrinha.

Cresce o número de lares chefiados por mulheres em dez anos

Maria faz parte do retrato da nova família brasileira, uma família chefiada pela mulher, na maioria das vezes solteira ou divorciada, que é obrigada a trabalhar para garantir o sustento da casa e dos filhos.
Ainda que os homens sejam considerados a referência da maioria das famílias brasileiras, cresce a participação das mulheres nessa função, mesmo nos lares em que há presença do companheiro masculino.
Enquanto em 1996 essa posição era ocupada por pouco mais de 10 milhões de mulheres, em 2006, o número havia subido para 18,5 milhões. O aumento foi de 79% enquanto as casas lideradas por homens cresceram 25%.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as famílias chefiadas por mulheres ainda apresentavam diferenças em relação àquelas comandadas por homens. Segundo a pesquisa, em 37,5% dos lares comandadas por homens, marido e mulher trabalhavam. Nesses casos, em apenas 27,4% as mulheres ganhavam igual ou mais que o marido.
Em 1996, esse percentual era menor: 25,7%. No Distrito Federal, as mulheres que ganham igual ou mais que os homens são 34,1% dos lares.

Comments (0)

Postar um comentário